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FUNDACIÓN PACO LAREO

ORLaNDo JoRGe FiGueiReDo

clausura 181


Ha máquinas para fazer tudo.
Máquinas para enrolar tabaco e máquinas para fazer pastas de dentes.
Máquinas de costurar sapatos e máquinas de fazer sabáo.

Enquanto penso em máquinas, um gato cinzento observa-me. Depois, vai descendo as escadas.
De vez em quando para. Silencioso, olhar verde e pensativo. Que ocupará a cabeça grande daquele paspalho ali sentado?

Ha máquinas para nos apagarem da vida, ha máquinas para nos devolve-rem á vida. Ha máquinas para fazer tudo. Para nos fazerem rir, para nos fazerem chorar. E ha balanças para pesar o riso e o choro como ha balanças para pesar repolhos e batatas.

O gato alimenta-se, tranquilamente. Para qué pressas? É o único gato neste espaco de livros abertos, de portôes abertos. Ninguém disputará os seus restos, como ninguém carregará o seu caixáo na hora da despedida.

Hà duas máquinas de costura ao lado de Saturno. No meio as vides. As pedras estao no fundo, onde se esconde a tua imagem submersa. Ha máquinas de fazer o pâo e fazer o vinho. Nâo hà máquinas de nos fazerem felizes. Olho em volta. Estou só. Talvez o gato tenha existido apenas na minha imaginaçâo

Hà máquinas para costurar os retalhos das nossas vidas como ha máquinas de fazer hostias para comungarmos e ficarmos com a alma limpinha.
Sento-me junto à fonte. Ouço a água correr. Sou feliz.
Orlando Jorge Figueiredo
Julho 2007-Solaina do Pilonho

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