A MAGIA DO ORLANDO
Texto de Orlando Jorge Figueiredo na V Forxa Literaria (Encontros Culturais no Rural)
Estou aqui, sentado. Estou aqui, parado, a olhar o silêncio que caiu sobre este espaço. Este silêncio feito de sol e moscas que me pousam nos bracos, que me fazem cócegas com as suas patitas como se dissessem: Olha para mim, Orlando! Olha para mim! Moscas que fazem parte deste cenário. As luzes estâo adormecidas, os microfones calados, o rádio dorme a sua sesta, as máscaras esto penduradas á espera dos actores que nâo vém. Por um momento, a vida ficou suspensa. Estou aqui, sentado na solaina desta casa. Ouço os pássaros que me contam segredos...O telefone é um telefone preto, antigo e queda se silencioso. Estou aqui, a olhar o jugo pendurado na trave do alpendre. O jugo que olha para mim e me propóe mil jogos de submissáo. É um jugo partido, incompleto. Talvez possa ser recuperado, talvez a vida possa ser restaurada em cada momento e o jugo se torne leve e suave. Ha o busto de urna crianga que me fita com os seus olhos vazios. Os cábelos de palha e o nariz arrebitado fazem-me sorrir.
Estou sentado, aqui. No meio deste palco que é a própria vida, olhando as lúas coladas Nas paredes. Umas tantas lúas que me sorriem de mansinho. Lúas doces e ternas como carinhos de mulher. Deixo-me ficar, prisioneiro desta magia, deste encantamento encantado, enfeitigado pela magestade simples deste jugo pendurado na trave do alpendre. Deixo-me ficar nesta quieta mansidào de nâo fazer nada, de nâo desejar nada, nem aventuras, nem paixôes, apenas estar. Apenas fazer parte deste cenário rural que agora se agita. O rádio toca uma cançao infantil. Os actores vâo chegando. A vida recomeça.
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